O auditório da CUT no centro da Capital paulista recebeu nesta segunda-feira (4) o seminário “Lutas e desafios das trabalhadoras domésticas no mundo do trabalho”. O evento foi organizado pelas secretarias da mulher trabalhadora e da igualdade racial da CUT-SP e da CUT Brasil.
Segundo a organização Internacional do Trabalho (OIT) o Brasil é o país com o maior número de trabalhadoras domésticas no mundo com mais de 7 milhões, sendo que mais de 90% desse universo é composto por mulheres, e mais de 60%, de mulheres negras. Para entender essa diferença, a doutoranda em economia pela Unicamp e educadora da Escola Sindical São Paulo Juliane Furno, disse que precisamos entender a herança escravista ainda presente na realidade dessas trabalhadoras. “Como a abolição não foi seguida de políticas públicas para inserir os negros e negras no mercado formal de trabalho, a grande maioria deles continuaram trabalhando realizando tarefas doméstica nas mesmas famílias que os escravizaram”, apontou.
Juliane também destacou como a crise econômica interfere na vida dessas trabalhadoras. Ela mostrou que sempre quando a economia vai bem, o número de trabalhadoras domésticas caí no país, e o contrário também é verdadeiro, dando a esse trabalho uma característica de precarização.
“O salário da trabalhadora doméstica cresceu mais do que a média do Salário Mínimo entre 2003 e 2014. Isso porque o país vivia um crescimento econômico e o número de empregadas estava caindo. Já no segundo semestre de 2015, com a crise se agravando e o desemprego aumentando, as mulheres tiveram que retornar para esse mercado”, apontou.
O debate também lembrou dos anos de luta das trabalhadoras domésticas. Louisa Acciari, doutoranda da London School of Economics e estudiosa da luta das trabalhadoras domésticas no Brasil, explica que a mobilização pela equiparação de direitos vem de muito antes da aprovação da PEC 150/2015, a chamada PEC das Domésticas.
“Essa luta vem desde, pelo menos, a década de 1970. As trabalhadoras domésticas sempre tiveram em suas pautas de que o trabalho doméstico que elas desenvolviam possibilita os outros trabalhos no país. Claro que a conjuntura política, com os governos do PT e a pressão internacional por essa equiparação ajudaram muito na provação da PEC em 2015. Mas essa luta vem de longe”, disse.
A interseccionalidade, que deve levar em conta a luta das mulheres em conjunto com a racial e proletária também é essencial para que o capitalismo não coopte a luta feminista pelo mundo. A professora da USP e da Centre National de la Recherche Scientifique - CNRS, na França, Helena Hirata mostrou como a indústria da moda tem explorado, em capas de revistas, a imagem da feminista rica, branca e que veste as melhores marcas.
“Se você considera que feminismo é isso, então não há mais necessidade de luta. Nós somos todas feministas dessa maneira, todas nos vestimos muito bem, nos penteamos muito bem e acabou aí. A interseccionalidade é muito importante porque é a nossa arma política contra as opressões”, encerrou.