A paz dos cemitérios que os golpistas imaginaram decretar ao concretizar o impeachment, não passou de um sonho antidemocrático. Aos gritos de Fora Temer, o presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas, afirmou no ato da quinta-feira (8), em São Paulo, que os movimentos sindical e sociais continuarão organizando atos por todo o Brasil. Mas que agora é momento de parar a produção neste golpe que carrega em si interesses capitalistas e que mira a soberania nacional.
Na marcha que reuniu 15 mil pessoas, organizada por entidades que compõem as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, Vagner também convocou a população para o Dia Nacional de Paralisação rumo à greve geral, que será em 22 de setembro.
“Estamos habituados a combater a violência há muito tempo. Estamos defendendo a democracia, os direitos dos trabalhadores e, por incrível que pareça, o Estado democrático de Direito. Este golpe é contra a classe trabalhadora, as mulheres, os negros e negras e a população LGBT. O Brasil foi tomado por uma corja de corruptos, golpistas violentos e fascistas. Jamais aceitaremos isso”, afirmou.
Coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, enfatizou que as organizações estão nas ruas há 10 dias e, desde a consumação do golpe, as manifestações se intensificam. “Eles achavam que aquela votação encerraria a história, que o Senado vota e o povo aceita. Achavam que a maioria do povo brasileiro iria aceitar a legitimidade de um Congresso corrupto e sem-vergonha para decidir os destinos do país. Mas mostramos que eles estavam enganados”, disse.
Segundo Boulus, uma coisa é o Michel Temer ter governabilidade na Câmara e no Senado, outra é ter governabilidade nas ruas. “Ele provocou dizendo que as manifestações eram de 15, de 18, de 40. Nossa resposta foi ter colocado 100 mil pessoas na Avenida Paulista. Esse cidadão não pode nem ir à feira porque lá estará o povo brasileiro para colocar ele no seu devido lugar”, garantiu.
Vagner também lembrou que os golpistas querem votar nos próximos dias a terceirização ilimitada e entregar o pré-sal para o exterior. No dia 12, atentou ainda para a votação do impeachment de Eduardo Cunha. “Vamos a Brasília impedir o saqueamento do povo brasileiro”
Criatividade na luta
Até o funk carioca "Malandramente", produzido pelos Mcs Nandinho & Nego Bam junto com Dennis DJ, um dos hits deste ano e que aparece nas listas de músicas mais acessadas em streaming no Brasil, virou hit de sucesso dos movimentos com a paródia “Primeiramente, Fora Temer Urgente”.
Faixas, camisetas e cartazes expressavam que a ânsia das ruas é pela saída dos golpistas que comandam um projeto de país diferente daquele que foi eleito pela maioria que levou Dilma Rousseff à presidência.
Da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Kelli Mafort repudiou a violência da PM de São Paulo nos últimos atos promovidos por movimentos de esquerda. “A polícia não vai conter a marcha de um povo. O Fora Temer é só uma primeira bandeira. Junto a isso, está a nossa luta por moradia, por reforma agrária, contra a reforma da Previdência e por todos os direitos que conquistamos.”
Representante da Marcha Mundial das Mulheres, Nalu Farias, lembrou que na marcha havia uma diversidade de gerações, desde as que resistiram ao golpe de 1964 ou que entraram para a luta neste cenário de golpe, no que caracterizou como ‘incipiente democracia’. “A ordem democrática foi rompida e exigimos eleições diretas já. Sem democracia, não vamos conquistar reforma agrária e urbana, nem uma política feminista, LGBT e antirracista. Queremos transformar este país e essa burguesia quer retroceder a décadas de avanços", reforçou.
Coordenador estadual da Central de Movimentos Populares (CMP) em São Paulo, Raimundo Bonfim salientou que os dias do presidente ilegítimo estão contados. "Hoje a casa grande está tremendo porque a senzala veio fazer uma visita. Não basta apenas o Fora Temer, é preciso também o Fora Alckmin porque a repressão está pesada. Enquanto os golpistas não saírem, também não sairemos das ruas."
Neste cenário de golpe, o professor de Comunicação, Laurindo Lalo Leal Filho, abordou também o papel da mídia. “Se você pegar os jornais, ouvir os programas de rádio e assistir os telejornais você verá que a Lava-Jato desapareceu, como se não houvesse mais corrupção no Brasil e, pior, dizendo que a economia está melhorando quando na verdade não há nenhum indicador concreto que prove isso. A mídia mantém a tradição de esconder o que há de mais importante neste país. E quando mostra um ato como este é sempre com uma narrativa que minimiza as manifestações populares”, avaliou.
Cercas policiais
A marcha que teve início no Largo da Batata, zona oeste da capital paulista, chegou até a frente da residência do presidente ilegítimo Michel Temer, no bairro Alto de Pinheiros, por volta das 20h30.
Já nas imediações da casa de Temer, a casa foi cercada pela Polícia Militar do Estado de São Paulo. Presente no ato, o ex-senador Eduardo Suplicy, alertou que se Temer quiser, de fato, unificar e pacificar o Brasil, o caminho é apelar à democracia. “Ele deve convocar uma consulta popular no próximo dia 2 de outubro, quando iremos às urnas escolher prefeitos e vereadores. A população escolherá se quer que ele governe até 2018. Caso não faça isso, que ele se comprometa junto ao Congresso a convocar eleições livres e diretas já em dezembro.”